Catálogo de Obras do Autor

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

"A PALAVRA MÁGICA" TRADUZIDA PARA O BRAILLE


BOAS NOVAS!
O meu livro A PALAVRA MÁGICA acabou de receber uma tradução mais que especial: para o Braille, a linguagem do cego, pela professora Vitória de Almeida.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

O que tempo que ruge



Bem oportuna o lembrete de Epicuro,
em dias de esquecimentos de que a vida flui fugazmente:
Dum vivimus vivamus,
Ou “enquanto vivemos, vivamos"!

Errare Humanum Est


Lembrei-me deste verso do poeta Virgílio: errare humanum este. Não carrego dúvidas que o erro origina valores. Por isso, extraímos todo o aprendizado necessário para as transposições evolutivas da nossa espécie. Condição de estágio probatório do qual até hoje devemos nos orgulhar, pois por isso somos o que somos. Experiências de provações que jamais as descartaremos, hoje ou amanhã. Éramos, ainda, Australopithecus, e já havíamos descoberto que conviver em grupos era imperativo para aquinhoarmos uma sobrevivência com alguma dignidade. Conseqüentemente, avalizar a existência das gerações vindouras. Proteger sua prole e seus parceiros daquela grande aventura humana, era também beneficiar todos os remanescentes com o legado material e humano que cada um deixava quando, enfim, morria. Dando ouvidos, novamente a Virgílio: “teus netos hão de colher os frutos.” Da colheita, alimentamo-nos com os frutos, e replantamos as sementes. Planejamento que fazemos não apenas a curto ou médio prazo (para nossos filhos), mas a longo limite (para a seara de nossos netos).

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Beijo Soporífico


Assassina, ó, mulher! Assassina!
Beija logo a minha boca,
com teus lábios de morfina!
Simão de Miranda

domingo, 23 de setembro de 2007

NASCEU!


Veio ao mundo na noite de 21 de setembro de 2007, de parto natural, meu filho mais novo: SEM POEMAS DE AMOR. Aviso: não fiz vasectomia. Convido-lhes a conhecê-lo.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Sobre o tempo...



Uma Correspondência de Rubem Alves
Prezado Simão:

O tempo passou. Envelheci. Mas não tenho queixas. A vida tem sido generosa. Tenho muitos amigos. Mesmo quando estamos distantes, sei que eles estão lá. Não existe nada mais precioso. As coisas mais bonitas – viagens, cenários, festas, música – são tristes sem os amigos.
Não tenho planos para coisas novas. Desejo apenas tranqüilidade para por em ordem e gozar as coisas que já tenho.
Estou tentando terminar um livro sobre educação. Um outro, sobre a estética do envelhecer, já está bem adiantado. Gostaria, também, de ter tempo para compartilhar as coisas que aprendi como terapeuta. E ainda vou escrever um livro de teologia alegre.
O que me causa ansiedade: as montanhas de cartas que não posso responder uma a uma. “Tempus Fugit”- sou limitado. Se for fazer o que me pedem eu não poderei fazer o que me peço. Espero que perdoem.
Obrigado pela amizade.
“Carpe Diem”! Goze o dia como se fosse um fruto maduro.
Vai o meu abraço.

Rubem Alves
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Uma resposta de Simão de Miranda

Meu caro Rubem Alves,

Não envelhecemos sozinhos e nem morremos de todo. Como nos ensina Horácio, “há de viver muita coisa de mim”.Tampouco fenecemos sozinhos. As amadas criaturas que ficam, quando partimos, não mais resgatam as dádivas que nos fizeram. Somos partículas do nietzscheano eterno retorno de todas as coisas, concebido como uma ampulheta que se desvira sempre que se escoa: “e então encontrarás cada dor e cada prazer e cada amigo e inimigo e cada esperança e cada erro e cada folha de grama e cada raio de sol outra vez, a inteira conexão de todas as coisas”.
Assim, me convenço de que o melhor grupo para conviver é o nosso próprio grupo, novelo, assim como ele é. Nele nos revelamos, vivemos e choramos. No impenetrável milagre da vida, definhamo-nos e geramo-nos, ciclicamente. Na biologia e na lógica. Células morrem, escoam pelo ralo na água do chuveiro, centenas de vidas novinhas já vieram render-lhes. Fazemo-nos sempre novo homem contínua e inestancavelmente. Renascermos melhores ou não, deve nos interessar.
Simão de Miranda

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Meus filhos mais novos!


A Palavra Mágica é uma história que fala de crenças e valores. Uma esperta menina chamada Júlia vai ao dicionário procurar o que ela acha que seja a palavra mágica, aquela que possa melhorar tudo o que achamos que precisa ser melhorado. Depois de uma longa procura, ela tem uma grande surpresa. Indicada para crianças a partir de 5 anos.

A Pipa no Limite do Fio é uma história que fala de limites. Nesta história um garoto soltando uma pipa aprende o quanto é importante sabermos até onde podemos ir, de modo seguro e feliz. É o que chamamos de limites. Indicada para crianças a partir de 5 anos.

O Besouro e a Tartaruga é uma história que fala de auto-estima. Indicada para crianças a partir de 5 anos, discute a importância de sermos nós mesmos, de gostarmos de ser do jeito que somos, tão diferentes uns dos outros e ao mesmo tão bonitos.
Estes três meus novos livros serão lançados no dia 09 de setembro, na Feira do Livro de Brasília (Pátio Brasil), na Oficina das Idéias.
Aguardo todos por lá!

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

O que não pode matar-me, torna-me mais forte

Nietzsche traduz bem este turbilhão chamado vida. É preciso que se diga: vivemos sempre mordendo a isca. Vivemos sempre mordendo a língua. Nas teias dos significados somos moscas e somos aranhas. Redimensionamos conceitos cristalizados outrora formulados acerca dos outros e de situações vividas. Assistimos, impávidos, a areia escorrer por entre nossos próprios dedos de nossas mãos abertas, enquanto nos maldizemos de todo o tudo. Vão-se os anéis, também os dedos. Viramos as páginas do nosso livro-vida onde dormitarão amareladas nossas amarguras e desapontamentos. Razão, tinham os Beatles: “Let it be!” Mas não queremos fazer os papéis de gladiadores patéticos no centro da arena rodeados de gargalhadas e deboches. Marx, o Karl, no auge da sua lucidez vaticinava: “não é a história que usa o homem como meio de atingir seus fins. É o contrário!” Não vivemos. Não convivemos. Vamos sobrevivendo às contendas definidas nas antevésperas. Todavia, uma vontade contumaz: caminharmos atentos e de queixos firmes; olhos, gigantes faróis; braços que não devem fraquejar. N'algum lugar nasce o sol, n'algum lugar uma ave voa.

Simão de Miranda

terça-feira, 7 de agosto de 2007

COMO NASCEM E MORREM AS SEMPRE-VIVAS

I
Dedos entrelaçados em fragilidade pétala,
Eternidade pétrea no afago de ambos:
Está claro, o amor é raro.

II
O amor abnega uma tarde pouca.
Quer ser entrega, não escambo.
Está claro, o amor é caro.


Simão de Miranda

sábado, 28 de julho de 2007

Vendavais

Já morri incontáveis vezes, por isso já não me assustam as voracidades de pequenos vendavais. Quantas vezes, entre mágoas e dores incontidas, conferiram meus dias, determinando meu ocaso... Já estive tão fundo no poço que nenhum mortal me convencia que o poço era raso. Para mim, na verdade, o poço sequer tinha fundo. Reergui-me, já, tantas vezes, por saber que não foi por acaso que nos foi doado o incalculável poder de estarmos sempre dispostos a recomeçar toda a história. Reerguendo-me foi que aprendi que ereta é nossa posição natural, qualquer coisa diferente disto é coisa, gente não. Quantos são os caminhos que precisamos percorrer até termos a certeza de que, outrora, estávamos certos? Todos os riscos nos cercam, todas as dores nos cercam, todas as águas. Mas é para isto que estamos aqui: para andarmos eretos.

Simão de Miranda

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Tempus Fugit

Há um besouro incomodando-me e não consigo elucidar seu mistério. Por isso a necessidade de compartir, mesmo a contragosto (meu e seu, sei) o ruído ruim que as asas dele provocam. Em um primeiro momento pensei ser um besouro dialético. Levou-me a concluir que vivemos (não apenas você e eu, mas toda a humanidade, sabemos) sempre entre duas opções: falar e silenciar. Muitas vezes silenciamos quando falamos; assim como, silenciando, falamos. Você, o que ouve quando me ouve, seja na fala, seja no silenciar? Não durou muito tempo, passei a considerá-lo um besouro aristotélico, posto que é da natureza dele o zumbizar e nada mais se pode elucubrar. Entretanto, ele fez habitar em mim um sentimento drummoniano com suspiros de angústia enchendo o espaço: tempus fugit! Foge o tempo irreparável! Nada pode deter o tempo, nem o deus Cronos. Quando achamos que avançamos, foi ele que passou por nós. Restou-me, pois, apenas uma clareza iniludível: tempo vivido. Portanto, o tempo passado? Coisa divina e ao mesmo tempo estarrecedora: somos finitos. O hoje não é como o ontem, e o amanhã é incerto. Tempo. Temporal. Ampulheta irreversível. Mas Amado (o Jorge), há muito já alertava que era preciso viver ardentemente.
Simão de Miranda

Mensagem na garrafa

A noite cobriu a cidade e nem o néctar da saliva dos seus lábios generosos... e lanço a ducentésima mensagem na garrafa. Perdoe-me por invadir assim, como herege, seu santuário. Certamente, não és estrela. És constelação inteira. E, assim, ofuscante, meu firmamento ficou pleno de vazio. Com medo, contei as voltas do tic-tac nervoso dos ponteiros das minhas horas que marcam a hora em anos luz a espera da aurora, à espera que me olhasses. O seu silêncio atravanca meu peito, sim. Como vês, estou desarmado. Palavras fluem como um caudal espinhoso de rosas que pecaram lá em maio. Sei que detrás do muro não sei o que há. Mas detrás de seu olhar, uma chama chama. O pó que fica do que queima, teima em não dissipar no vento. O relógio tic-tac e nada! No suspiro final do dia, prorrogo a esperança para terça. Contemplo em silêncio, o seu silêncio. Eis que chegou a noite e ela não durará mais que um lapso de um beijo roubado. Mesmo com o coração dilacerado em tiras, acenderei um sol só para você, enquanto contemplo a garrafa que volta à praia.
Simão de Miranda



MEUS OLHOS ENCONTRAM OS SEUS.


SEUS OLHOS SÃO AGULHAS,


FAGULHAS FERINDO OS MEUS.


SIMÃO DE MIRANDA, do livro O AMOR É UM MAR REVOLTO, Brasília, 1996.


quinta-feira, 19 de julho de 2007

Paixão(?!)



Olhar, apenas, não me satisfazia.
Roubei o beijo, fiz a cena.
Perdoe a pureza do poeta,
Perdoe a ousadia, deusa.
É que o poeta é fraco em demasia.


Simão de Miranda

Da Existência





Eis o grande fascínio da existência:
nunca estar pronto;
portanto, nunca acabar.
Todavia, há uma verdade:
nossa experiência é espelho do tempo,


do qual herdamos a sabedoria.

Simão de Miranda

quinta-feira, 12 de julho de 2007

A ÁGUA DO POÇO DO ESQUECIMENTO



Quero dormir,

sorver a água do poço do esquecimento.

Unir as pálpebras, descansar,

imobilizar-me onde estiver:

num gramado sob a chuva

ou sob o sol a pino, relento.

Sim, quero da água do poço do esquecimento.



Deixe que passem por mim, neste momento,

todas as mulheres belas que pretendi,

o belo anelo que suspirei.

Estarei dormindo encolhido no sibilo do vento.

Dê-me a água do poço do esquecimento.



Quero que me esqueçam:

do que fui ou do que deixei de ser.

As minhas culpas protestem no cartório,

do meu legado façam uso a contento.

Já traguei da água do poço do esquecimento.



Vou sumir, fechar-me no meu apartamento

sob sete chaves, sete cobertores.

Não me liguem, não me procurem,

não me submetam a esse tormento...

Lá se foi a água do poço do esquecimento!



Simão de Miranda, do livro "Boemia Prática em 40 Lições", Brasília, Editora Thesaurus, 1993.


segunda-feira, 9 de julho de 2007

CANDURA




Murmúrios preciosos,
Fragrância,
Frenesi...
O afeto,
O olfato,
O fervor,
A candura dos olhares.
Sem música,
Há harmonia, mesmo assim.
A voragem plenifica tudo à nossa volta.

Simão de Miranda

segunda-feira, 2 de julho de 2007

MISENCENE

AMOR:


TODO O MUITO NÃO É O BASTANTE,


NEM ESSA ELOQÜÊNCIA TEATRAL,


NEM A MORBIDEZ DESSE INSTANTE.


TOMASTES DE ASSALTO O MEU CÉU,


LEVANDO EMBORA AS ÚLTIMAS ESTRELAS QUE EU TINHA,


E EU FIQUEI A VER NAVIOS.


Simão de Miranda, Versículos para os Intervalor, Brasília, 1987.

POEMA SEM CÉU


Nos teus braços

navego sem bússola,

nos teus olhos

tomo essa nave louca,

no sabor de tuas ondas,

me afogo no céu da tua boca.


Simão de Miranda, Versículos para os Intervalos, Brasília, 1987.

O ZOO LÓGICO (OU A NOVA ERA VELHA)


Eu e minha macaca,

nos domingos de sol,

vamos dar pipocas

aos homens.

Simão de Miranda, Versículos para os Intervalos, Brasília, 1987.

O ÂNGULO OPOSTO



linhas e curvas

e esse mal não tem cura

teu corpo... teu corpo inteiro

é geometria pura.

Simão de Miranda, Versículos para os Intervalos, Brasília, 1987.

O LIVRE ARBÍTRIO


SOU UM PACIFISTA CONVICTO:
OFERECEO LIBERDADE AOS PÁSSAROS,
DEPOIS DE CORTAR-LHES AS ASAS.
Simão de Miranda (Versículos para os Intervalos, Brasília, 1987)

2007: 20 ANOS DO MEU PRIMEIRO LIVRO!



Em setembro deste ano completam-se 20 anos da publicação do meu primeiro livro, VERSÍCULOS PARA OS INTERVALOS: POEMAS RÁPIDOS PARA QUEM TEM PRESSA. Meu Deus, como o tempo desembestou! De lá para cá já são 22 e mais três para sair ainda este ano... e muita gente interessante que os leram. Resolvi fazer aqui uma espécie de túnel do tempo, recuperando alguns dos poemas daquele livro, que de uma grande brincadeira, e foi se se transformando num grande compromisso com a literatura.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

CANTO ABERTO AO CERRADO



Brasília, estás tão dentro de mim que acabo amando-te. Tão áspera, mas tão humana; tão abrasiva, mas tão linda. Estás incrustada em mim como eu em ti. Pérola na ostra. Até parece que sou mais uma árvore no teu cerrado, com as raízes presas definitivamente nas tuas entranhas.
Brasília, menina, moça, senhora, dama de cabaré que se oferece inteira abrindo as asas e cruzando os eixos. Nossas aberrações e contradições periféricas provam somente que a semente no tão cerrado já é adulta e dá frutos.
Brasília, estás tão dentro de mim que, que por mais que me esforçe, não consigo odiar-te. Após nossas brigas, sempre acabo amando-te muito mais. É por isso que, quanto mais próximo do azul do teu céu eu me aproximo, mais medo de filosofar eu tenho.


Simão de Miranda

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Uma carta de afeto e de ternura ao professor que sonha





Simão de Miranda (do meu livro 100 lembretes e uma carta para a auto-estima do professor, Papirus, 2006)
http://www.simaodemiranda.com.br/
Professor, meu companheiro; professora, minha companheira: como eu desejo que estas palavras que vos remeto silenciem águas, cintilem paraísos, reluzam cristais!Creio irem com elas significados que o silêncio guarda sem o menor dos melindres. Às vezes com dores. Outras com dúvidas. Muitas com medos. Sobretudo, centenas com sonhos e alegrias.Vão desejos que precisamos expressar, para que não nos sufoquem, mesmo que por um minuto. Ora, um minuto é partícula diminuta de tempo, mas nele cabem mil boas intenções!Vai, com meu texto, um pretexto: janelas que nos abram outras janelas, como no hipertexto.Estas palavras não querem ser delírios, nem ousam ser doutrinas. Apenas, e humildemente, bichos microscópicos onde possam latejar motivações. Não têm pretensão de serem retóricas, nem quer para si as máscaras dos desatinos. Querem ser viço e vicissitude.Querem ser falas que constroem a gente. Querem ser pérolas ignotas ocultas nas ostras. Talvez flechas certeiras. Quem sabe, terrenos e sementes. Querem prometer, sem comprometer, afetos.Querem ser lampejos que transbordem a vida. Quiçá, arco-íris e potes de ouro. Quem dera, querências que precisamos alimentar.Querem, enquanto crepúsculos, semear auroras. Querem dar cheiro ao livro novo, de palavras velhas ainda não saboreadas. Querem ser o orvalho que cai sereno, serenando a alma.A palavra, enfim, reveste-se da magia mais intensa e pode sinalizar o teor de confiança que venhamos a possuir acerca de nossas potencialidades.Desejo, meu companheiro e minha companheira de ofício, que sabem a dor e a delícia deste labor, que faça uso destes lembretes diariamente, pois para este extraordinário elixir não há contra-indicação. Coloque-os em prática e depois me diga se realmente eu tinha razão.Com o abraço mais afetuoso do amigo


segunda-feira, 4 de junho de 2007

Sedução


Nem um por cento do brilho
De seus dentes alvos
Merecem meus olhos turvos?
Nem uma mostra da pérola que procuro?
Nem um miligrama do seu batom
Merece minha boca ansiosa?
Nem o sorvo da sedução do fruto maduro?

O Amor


Jamais pensei tamanha dor.
Isto, como se cura?
O tempo cura o amor?!
Só a loucura?!
Procuras indigestas?!
Cerrar as portas?!
Pular de ponta?!
Aparar as arestas?!

Prefiro você...




Prefiro você
A essa noite insone
Ao telefone.
Prefiro você
A esse sorriso abstrato
Do retrato.
Prefiro você
A esse
pensamento fixo,
prolixo.
Prefiro você:
Presente desembrulhado
Ao meu lado.
Simão de Miranda

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Teus Olhos Feéricos


Teus olhos feéricos
Nada precisam dizer,
Apenas sorria.
Sorria
apenas
e aproxime-te de mim .
E toca meu rosto tenso
E vê.
E
vem.

Simão de Miranda

segunda-feira, 28 de maio de 2007

AMOR É FOGO QUE ARDE?


Por favor,
Incinere tudo o que me lembra.
Fotografias perdidas de algum dia;
Garatujas dedicadas a você
Que eu, herege, batizava “poesia”;
Beijos que, por um acaso,
Eu tenha esquecido em seus lábios;
Delete-me da memória.
O tempo, inapelável, há de passar
E recomeçaremos a história.


SIMÃO DE MIRANDA

Vastidão



Você não há.
Não a vi, hoje;
Nem amanhã, é certo.
Crio seus cabelos,
Dentes, lábios, cabeça...
E, no sopro vital, desaparece.
Poemas, e nem agradece.
Domingo profundo, defunto,
Cinzento, soturno.
A lua linda
E você não há.
Vastidão.
Domingo ôco
De ponta a ponta
Como se ele nascesse
E você não.

SIMÃO DE MIRANDA

quinta-feira, 17 de maio de 2007


Antes que acabe o último minuto,
Deixe-me que fique aqui junto a ti,
Olhando para mim, este corpo imóvel,
Seixo rolado de rio,
Este nada que faço, minhas não-palavras
Que exprimem-me ou tentam.
Deixe-me que te diga que nos precisamos muito.
Todo o agora, mais que o sempre.


Simão de Miranda

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Rui Barbosa, Paulo Freire...

Sabem aquele poema do Rui Barbosa, onde lá pelas tantas ele dizia “de tanto ver triunfar as lidades, / de tanto ver prosperar a desonra, / de tanto ver crescer a injustiça...” Ei-lo, na íntegra. E, quanta tristeza! Qualquer semelhança com a realidade atual não terá sido mera coincidência!

Abraços, Simão de Miranda

Rui Barbosa, em 1914, escreveu assim:

Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte desse povo,por ter batalhado sempre pela justiça,por compactuar com a honestidade,por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia,pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos,simples e abominavelmente,a derrota das virtudes pelos vícios,a ausência da sensatez no julgamento da verdade,a negligência com a família,célula-mater da sociedade,a demasiada preocupação com o "eu" feliz a qualquer custo,buscando a tal "felicidade"em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir,sem despejar meu verbo,a tantas desculpas ditadaspelo orgulho e vaidade,a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido,a tantos "floreios" para justificar atos criminosos,a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre "contestar",voltar atrás e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim pois faço parte de um povo que não reconheço,enveredando por caminhos que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha impotência,da minha falta de garra,das minhas desilusões e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir pois amo este meu chão,vibro ao ouvir meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!
De tanto ver triunfar as nulidades,de tanto ver prosperar a desonra,de tanto ver crescer a injustiça,de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,o homem chega a desanimar da virtude,a rir-se da honra,a ter vergonha de ser honesto.

sexta-feira, 11 de maio de 2007


Sexta-feira. Saio do trabalho como que com caroço de abacate na garganta. Paira tom sombrio sobre a aura de Brasília. Dirijo-me, às pressas, à caixa postal em desejo desesperado de notícias. Qualquer notícia amiga. Com sofreguidão, giro a pequena chave... Poeira. Sem demora, pego o rumo de casa. Existem partículas de esperanças depositadas na caixinha do correio do edifício onde moro. Mais uma chavinha se move em 180 graus. Conta de luz, extrato do cartão de crédito, taxa de condomínio. Estão todos lá. Aperto o botão do elevador já embevecido de quase desesperança. Imerso em turbilhão de coisas que não consigo classificar, giro outra chave. O que temia estão lá: familiares paredes, paradigmas a me limitar. Caminho pelos cômodos, já incômodos. Nenhum bilhete por baixo da porta. Nenhum recadinho no vizinho. Nenhum aviso com o zelador. As fronteiras do ser humano são largas; no entanto, são finitas. E as minhas teimam em se encerrar no quadrado de um notebook.
Simão de Miranda
(Trecho do conto Esperar é Morrer Lentamente, do meu livro Cronópolis, a Cidade Ácida)

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Gaiolas e Asas, um trecho de Rubem Alves


Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-las para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado. Esse simples aforismo nasceu de um sofrimento: sofri conversando com professoras de segundo grau, em escolas de periferia. O que elas contam são relatos de horror e medo. Balbúrdia, gritaria, desrespeito, ofensas, ameaças... E elas, timidamente, pedindo silêncio, tentando fazer as coisas que a burocracia determina que sejam feitas, dar o programa, fazer avaliações... Ouvindo os seus relatos vi uma jaula cheia de tigres famintos, dentes arreganhados, garras à mostra - e a domadoras com seus chicotes, fazendo ameaças fracas demais para a força dos tigres... Sentir alegria ao sair da casa para ir para escola? Ter prazer em ensinar? Amar os alunos? O seu sonho é livrar-se de tudo aquilo. Mas não podem. A porta de ferro que fecha os tigres e a mesma
porta que as fecha junto com os tigres.
Nos tempos da minha infância eu tinha um prazer cruel: pegar passarinhos. Fazia minhas próprias arapucas, punha fubá dentro e ficava escondido, esperando... O pobre passarinho vinha, atraido pelo fubá. Ia comendo, entrava na arapuca, pisava no poleiro – e era uma vez um passarinho voante. Cuidadosamente eu enfiava a mão na arapuca, pegava o passarinho e o colocava dentro de uma gaiola. O pássaro se lançava furiosamente contra os arames, batia as asas, crispava as garras, enfiava o bico entre nos vãos, na inútil tentativa de ganhar de novo o espaço, ficava ensanguetado... De quanta violência é capaz o frágil corpo de um pássaro... Sempre me lembro com tristeza da minha violência infantil.
É o pássaro que é violento? Ou violenta será a imóvel gaiola que o prende? Violentos, os adolescentes de periferia? Ou serão as escolas que são violentas? As escolas serão gaiolas?
Me falarão sobre a necessidade das escolas dizendo que os adolescentes de periferia precisam ser educados para melhorarem de vida. De acordo. É preciso que os adolescentes, é preciso que todos tenham uma boa educação. Uma boa educação abre os caminhos de uma vida melhor.
Mas, eu pergunto: Nossas escolas estão dando uma boa educação? O que é uma boa educação?
O que se pressupõe é que os alunos ganham uma boa educação se eles aprendem os contéudos dos programas oficiais. Para se testar essa aprendizagem há uma série de mecanismos de avaliação, aumentados pelos novos exames elaborados pelo Ministério da Educação.
Mas será mesmo? Será que a aprendizagem dos programas oficiais é a essência daquilo que se definiria como uma boa educação?
Você sabe o que é "dígrafo"? E os usos da partícula "se"? E o nome das enzimas que entram na digestão? E a forma como se reproduzem as estrelas do mar? E o sujeito da frase " Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante"? Que é que você pode fazer com a palavra "mesóclise"? Pobres professoras, também engaioladas... São obrigadas a ensinar o que os programas mandam...
O sujeito da educação é o corpo. É ele que dá as ordens. A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver.
Nietzsche dizia que ela, a inteligência, era "ferramenta" e "brinquedo" do corpo. Nisso se resume o programa de aprendizagem do corpo: aprendizagem de "ferramentas" e de "brinquedos". "Ferramentas" são conhecimentos que me permitem resolver os problemas vitais que me desafiam no dia a dia. "Brinquedos", ao contrário, são todas aquelas coisas que, não tendo nenhuma utilidade como ferramentas, dão prazer e alegria à alma. No momento em que escrevo estou ouvindo o coral da 9ª sinfonia. Não é ferramenta. Não serve para nada. Mas enche a minha alma de felicidade. Nessas duas palavras, ferramentas e brinquedos, está o
resumo educação.
Ferramentas e brinquedos não são gaiolas. São asas. Ferramentas me dão liberdade prática. Brinquedos me dão liberdade espiritual. Quem está aprendendo ferramentas e brinquedos não fica violento. Não bate asas e bico contra as grades. Porque não há grades. Só há o espaço livre...
Não me impressionam as estatísticas oficiais que anunciam o aumento do número de escolas e de alunos. Fico a imaginar: gaiolas ou asas?
.......
E você, amigo(a), acha que nossas escolas hoje estão mais para gaiolas ou para asas?

quinta-feira, 26 de abril de 2007


"Amorosamente, a saudade se instala no alpendre do tempo... Na sisudez das horas, já não esconde o cansaço do corpo, a rouquidão do canto e o desassossego da alma. A saudade muda o semblante das estações, instala uma sintaxe de estrelas e expõe seus vincos com a alquimia dos sonhos. A saudade banha-se no rio de todas as infâncias, pula as cercas vivas do pensamento, guarda a limpidez das primeiras águas, roça a linha divisória da melancolia suave e dilacerante, sublima a sombra dos sentimentos patéticos, delineia o sentido primordial das perdas e, no limiar da viagem, dissolve a fragrância errante do necessário amor... Razão e irrazão palpitam, como súplica, em sua febre de encontro. Liberdade e tirania misturam-se ao script das ausências azulejadas. Ao redor dos dias, a saudade reboca o chão forasteiro de cada reminiscência e acumula as lições do tempo. De quantas saudades é feito o homem? De tantas quanto a vista captura. De tantas quanto o desejo morde. De tantas quanto a dúvida decifra. De tantas quanto o calendário rebenta. De tantas quanto a dor soçobra. De tantas quanto a escrita exibe".
Leontino Filho é poeta e Professor da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte

segunda-feira, 23 de abril de 2007

DESEJOS

Depois de muito tempo, escravizado por textos técnicos exigidos por minha Tese, bateu um desespero para escrever literatura. Minha alma estava agoniada, querendo dizer um monte coisas que ela desejava. Estas são minhas boas-vindas ao Blog! Receba meu abraço. Chamei o texto de
Desejos
Simão de Miranda
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música suave sibilo do vento brisa marinha sussurros promessas de beijos abraços demorados arco-íris olhos castanhos cheiro de terra molhada café feito na hora sorriso terno flores borboletas feriados na sexta e segunda seguidamente cartas antigas lembranças de conversas envelhecidas com pessoa querida querência que nunca morre aromas que lembram gentes queridas meias quentes barulho de chuva beijo na boca tão de repente doce comido na colher sonho manga chupada no pé dinheiro achado no bolso poema de amor deitar em rede livro novo samambaias exuberantes sítio-chácara-fazenda-brejo presentes presenças sorriso de bebê gargalhadas das crianças pés descalço na areia o mar o mar o novo o novo de novo flor bonita na janela paquera acordar sem despertador emendar o amor quebrado saudades caminhada de manhã pôr-do-sol na estrada conversa com o Rubem Alves surpresas de amigos distantes camiseta velha plantar um sorrio bolo de chocolate com cobertura enternecer-se promessas boas de se ouvir de novo o mar de novo o mar comoção lua cheia suave melodia murmúrios canto da cigarra confidências consumação fragrância de pele confissões meia-luz dos amantes frenesi manhãs de sábados harmonia Madredeus silêncio trovoada serenidade desejos presos no sótão ânsia doçura brasa dormida de fogueira passarinhos livres planos-projetos-cálculos-tracejos-rascunhos-mapas afeto afago lembranças saciar a sede dois vinhos a dois e depois?