Catálogo de Obras do Autor

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Sobre o tempo...



Uma Correspondência de Rubem Alves
Prezado Simão:

O tempo passou. Envelheci. Mas não tenho queixas. A vida tem sido generosa. Tenho muitos amigos. Mesmo quando estamos distantes, sei que eles estão lá. Não existe nada mais precioso. As coisas mais bonitas – viagens, cenários, festas, música – são tristes sem os amigos.
Não tenho planos para coisas novas. Desejo apenas tranqüilidade para por em ordem e gozar as coisas que já tenho.
Estou tentando terminar um livro sobre educação. Um outro, sobre a estética do envelhecer, já está bem adiantado. Gostaria, também, de ter tempo para compartilhar as coisas que aprendi como terapeuta. E ainda vou escrever um livro de teologia alegre.
O que me causa ansiedade: as montanhas de cartas que não posso responder uma a uma. “Tempus Fugit”- sou limitado. Se for fazer o que me pedem eu não poderei fazer o que me peço. Espero que perdoem.
Obrigado pela amizade.
“Carpe Diem”! Goze o dia como se fosse um fruto maduro.
Vai o meu abraço.

Rubem Alves
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Uma resposta de Simão de Miranda

Meu caro Rubem Alves,

Não envelhecemos sozinhos e nem morremos de todo. Como nos ensina Horácio, “há de viver muita coisa de mim”.Tampouco fenecemos sozinhos. As amadas criaturas que ficam, quando partimos, não mais resgatam as dádivas que nos fizeram. Somos partículas do nietzscheano eterno retorno de todas as coisas, concebido como uma ampulheta que se desvira sempre que se escoa: “e então encontrarás cada dor e cada prazer e cada amigo e inimigo e cada esperança e cada erro e cada folha de grama e cada raio de sol outra vez, a inteira conexão de todas as coisas”.
Assim, me convenço de que o melhor grupo para conviver é o nosso próprio grupo, novelo, assim como ele é. Nele nos revelamos, vivemos e choramos. No impenetrável milagre da vida, definhamo-nos e geramo-nos, ciclicamente. Na biologia e na lógica. Células morrem, escoam pelo ralo na água do chuveiro, centenas de vidas novinhas já vieram render-lhes. Fazemo-nos sempre novo homem contínua e inestancavelmente. Renascermos melhores ou não, deve nos interessar.
Simão de Miranda

3 comentários:

Anônimo disse...

Simão:
Como me orgulho em ser sua amiga e aprender constantemente contigo.
Grande e afetuoso abraço,
Adriana Levino

Anônimo disse...

Que pessoa maravilhosa deve ser o Rubem Alves. Poder dizer que não tem planos para o futuro e ainda assim, estar escrevendo 2 livros e ainda ter tempo de pensar num terceiro.

Concordo com ele, quando diz que deve fazer o que espera de si mesmo. O mundo agradecerá pelas obras que, desse tempo dedicado a si mesmo, surgirem.

A resposta ficou a altura também. Tenho percebido que escrever nos renova para melhor e o que não nos faz bem, melhor deixar para trás.

Jussara disse...

Tenho tanto orgulho de ter sido sua aluna há 16 anos no Colégio Gesner Teixeira no DVO e depois no CED 02 do Gama. Você estava engatinhando para o sucesso. Voltar a lhe reencontrar será uma alegria muito grande para mim caríssimo Professor. Irei a seu encontro no próximo domingo dia 09 para lhe parabenizar por sua linda caminhada como mestre e escritor.

Grande abraço,

Jussara Cristina dos Santos Celestino