Catálogo de Obras do Autor

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Mensagem na garrafa

A noite cobriu a cidade e nem o néctar da saliva dos seus lábios generosos... e lanço a ducentésima mensagem na garrafa. Perdoe-me por invadir assim, como herege, seu santuário. Certamente, não és estrela. És constelação inteira. E, assim, ofuscante, meu firmamento ficou pleno de vazio. Com medo, contei as voltas do tic-tac nervoso dos ponteiros das minhas horas que marcam a hora em anos luz a espera da aurora, à espera que me olhasses. O seu silêncio atravanca meu peito, sim. Como vês, estou desarmado. Palavras fluem como um caudal espinhoso de rosas que pecaram lá em maio. Sei que detrás do muro não sei o que há. Mas detrás de seu olhar, uma chama chama. O pó que fica do que queima, teima em não dissipar no vento. O relógio tic-tac e nada! No suspiro final do dia, prorrogo a esperança para terça. Contemplo em silêncio, o seu silêncio. Eis que chegou a noite e ela não durará mais que um lapso de um beijo roubado. Mesmo com o coração dilacerado em tiras, acenderei um sol só para você, enquanto contemplo a garrafa que volta à praia.
Simão de Miranda

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