Catálogo de Obras do Autor

sexta-feira, 11 de maio de 2007


Sexta-feira. Saio do trabalho como que com caroço de abacate na garganta. Paira tom sombrio sobre a aura de Brasília. Dirijo-me, às pressas, à caixa postal em desejo desesperado de notícias. Qualquer notícia amiga. Com sofreguidão, giro a pequena chave... Poeira. Sem demora, pego o rumo de casa. Existem partículas de esperanças depositadas na caixinha do correio do edifício onde moro. Mais uma chavinha se move em 180 graus. Conta de luz, extrato do cartão de crédito, taxa de condomínio. Estão todos lá. Aperto o botão do elevador já embevecido de quase desesperança. Imerso em turbilhão de coisas que não consigo classificar, giro outra chave. O que temia estão lá: familiares paredes, paradigmas a me limitar. Caminho pelos cômodos, já incômodos. Nenhum bilhete por baixo da porta. Nenhum recadinho no vizinho. Nenhum aviso com o zelador. As fronteiras do ser humano são largas; no entanto, são finitas. E as minhas teimam em se encerrar no quadrado de um notebook.
Simão de Miranda
(Trecho do conto Esperar é Morrer Lentamente, do meu livro Cronópolis, a Cidade Ácida)

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