
BOAS NOVAS!
O meu livro A PALAVRA MÁGICA acabou de receber uma tradução mais que especial: para o Braille, a linguagem do cego, pela professora Vitória de Almeida.





Nietzsche traduz bem este turbilhão chamado vida. É preciso que se diga: vivemos sempre mordendo a isca. Vivemos sempre mordendo a língua. Nas teias dos significados somos moscas e somos aranhas. Redimensionamos conceitos cristalizados outrora formulados acerca dos outros e de situações vividas. Assistimos, impávidos, a areia escorrer por entre nossos próprios dedos de nossas mãos abertas, enquanto nos maldizemos de todo o tudo. Vão-se os anéis, também os dedos. Viramos as páginas do nosso livro-vida onde dormitarão amareladas nossas amarguras e desapontamentos. Razão, tinham os Beatles: “Let it be!” Mas não queremos fazer os papéis de gladiadores patéticos no centro da arena rodeados de gargalhadas e deboches. Marx, o Karl, no auge da sua lucidez vaticinava: “não é a história que usa o homem como meio de atingir seus fins. É o contrário!” Não vivemos. Não convivemos. Vamos sobrevivendo às contendas definidas nas antevésperas. Todavia, uma vontade contumaz: caminharmos atentos e de queixos firmes; olhos, gigantes faróis; braços que não devem fraquejar. N'algum lugar nasce o sol, n'algum lugar uma ave voa.
Há um besouro incomodando-me e não consigo elucidar seu mistério. Por isso a necessidade de compartir, mesmo a contragosto (meu e seu, sei) o ruído ruim que as asas dele provocam. Em um primeiro momento pensei ser um besouro dialético. Levou-me a concluir que vivemos (não apenas você e eu, mas toda a humanidade, sabemos) sempre entre duas opções: falar e silenciar. Muitas vezes silenciamos quando falamos; assim como, silenciando, falamos. Você, o que ouve quando me ouve, seja na fala, seja no silenciar? Não durou muito tempo, passei a considerá-lo um besouro aristotélico, posto que é da natureza dele o zumbizar e nada mais se pode elucubrar. Entretanto, ele fez habitar em mim um sentimento drummoniano com suspiros de angústia enchendo o espaço: tempus fugit! Foge o tempo irreparável! Nada pode deter o tempo, nem o deus Cronos. Quando achamos que avançamos, foi ele que passou por nós. Restou-me, pois, apenas uma clareza iniludível: tempo vivido. Portanto, o tempo passado? Coisa divina e ao mesmo tempo estarrecedora: somos finitos. O hoje não é como o ontem, e o amanhã é incerto. Tempo. Temporal. Ampulheta irreversível. Mas Amado (o Jorge), há muito já alertava que era preciso viver ardentemente.
A noite cobriu a cidade e nem o néctar da saliva dos seus lábios generosos... e lanço a ducentésima mensagem na garrafa. Perdoe-me por invadir assim, como herege, seu santuário. Certamente, não és estrela. És constelação inteira. E, assim, ofuscante, meu firmamento ficou pleno de vazio. Com medo, contei as voltas do tic-tac nervoso dos ponteiros das minhas horas que marcam a hora em anos luz a espera da aurora, à espera que me olhasses. O seu silêncio atravanca meu peito, sim. Como vês, estou desarmado. Palavras fluem como um caudal espinhoso de rosas que pecaram lá em maio. Sei que detrás do muro não sei o que há. Mas detrás de seu olhar, uma chama chama. O pó que fica do que queima, teima em não dissipar no vento. O relógio tic-tac e nada! No suspiro final do dia, prorrogo a esperança para terça. Contemplo em silêncio, o seu silêncio. Eis que chegou a noite e ela não durará mais que um lapso de um beijo roubado. Mesmo com o coração dilacerado em tiras, acenderei um sol só para você, enquanto contemplo a garrafa que volta à praia.

AMOR:
TODO O MUITO NÃO É O BASTANTE,
NEM ESSA ELOQÜÊNCIA TEATRAL,
NEM A MORBIDEZ DESSE INSTANTE.
TOMASTES DE ASSALTO O MEU CÉU,
LEVANDO EMBORA AS ÚLTIMAS ESTRELAS QUE EU TINHA,
E EU FIQUEI A VER NAVIOS.
Simão de Miranda, Versículos para os Intervalor, Brasília, 1987.








Prefiro vocêSimão de Miranda
A essa noite insone
Ao telefone.
Prefiro você
A esse sorriso abstrato
Do retrato.
Prefiro você
A esse
pensamento fixo,
prolixo.
Prefiro você:
Presente desembrulhado
Ao meu lado.

Teus olhos feéricos
Nada precisam dizer,
Apenas sorria.
Sorria
apenas
e aproxime-te de mim .
E toca meu rosto tenso
E vê.
E
vem.
Simão de Miranda
triunfar as lidades, / de tanto ver prosperar a desonra, / de tanto ver crescer a injustiça...” Ei-lo, na íntegra. E, quanta tristeza! Qualquer semelhança com a realidade atual não terá sido mera coincidência!


Depois de muito tempo, escravizado por textos técnicos exigidos por minha Tese, bateu um desespero para escrever literatura. Minha alma estava agoniada, querendo dizer um monte coisas que ela desejava. Estas são minhas boas-vindas ao Blog! Receba meu abraço. Chamei o texto de