
Já morri incontáveis vezes, por isso já não me assustam as voracidades de pequenos vendavais. Quantas vezes, entre mágoas e dores incontidas, conferiram meus dias, determinando meu ocaso... Já estive tão fundo no poço que nenhum mortal me convencia que o poço era raso. Para mim, na verdade, o poço sequer tinha fundo. Reergui-me, já, tantas vezes, por saber que não foi por acaso que nos foi doado o incalculável poder de estarmos sempre dispostos a recomeçar toda a história. Reerguendo-me foi que aprendi que ereta é nossa posição natural, qualquer coisa diferente disto é coisa, gente não. Quantos são os caminhos que precisamos percorrer até termos a certeza de que, outrora, estávamos certos? Todos os riscos nos cercam, todas as dores nos cercam, todas as águas. Mas é para isto que estamos aqui: para andarmos eretos.
Simão de Miranda