Catálogo de Obras do Autor

quarta-feira, 27 de junho de 2007

CANTO ABERTO AO CERRADO



Brasília, estás tão dentro de mim que acabo amando-te. Tão áspera, mas tão humana; tão abrasiva, mas tão linda. Estás incrustada em mim como eu em ti. Pérola na ostra. Até parece que sou mais uma árvore no teu cerrado, com as raízes presas definitivamente nas tuas entranhas.
Brasília, menina, moça, senhora, dama de cabaré que se oferece inteira abrindo as asas e cruzando os eixos. Nossas aberrações e contradições periféricas provam somente que a semente no tão cerrado já é adulta e dá frutos.
Brasília, estás tão dentro de mim que, que por mais que me esforçe, não consigo odiar-te. Após nossas brigas, sempre acabo amando-te muito mais. É por isso que, quanto mais próximo do azul do teu céu eu me aproximo, mais medo de filosofar eu tenho.


Simão de Miranda

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Uma carta de afeto e de ternura ao professor que sonha





Simão de Miranda (do meu livro 100 lembretes e uma carta para a auto-estima do professor, Papirus, 2006)
http://www.simaodemiranda.com.br/
Professor, meu companheiro; professora, minha companheira: como eu desejo que estas palavras que vos remeto silenciem águas, cintilem paraísos, reluzam cristais!Creio irem com elas significados que o silêncio guarda sem o menor dos melindres. Às vezes com dores. Outras com dúvidas. Muitas com medos. Sobretudo, centenas com sonhos e alegrias.Vão desejos que precisamos expressar, para que não nos sufoquem, mesmo que por um minuto. Ora, um minuto é partícula diminuta de tempo, mas nele cabem mil boas intenções!Vai, com meu texto, um pretexto: janelas que nos abram outras janelas, como no hipertexto.Estas palavras não querem ser delírios, nem ousam ser doutrinas. Apenas, e humildemente, bichos microscópicos onde possam latejar motivações. Não têm pretensão de serem retóricas, nem quer para si as máscaras dos desatinos. Querem ser viço e vicissitude.Querem ser falas que constroem a gente. Querem ser pérolas ignotas ocultas nas ostras. Talvez flechas certeiras. Quem sabe, terrenos e sementes. Querem prometer, sem comprometer, afetos.Querem ser lampejos que transbordem a vida. Quiçá, arco-íris e potes de ouro. Quem dera, querências que precisamos alimentar.Querem, enquanto crepúsculos, semear auroras. Querem dar cheiro ao livro novo, de palavras velhas ainda não saboreadas. Querem ser o orvalho que cai sereno, serenando a alma.A palavra, enfim, reveste-se da magia mais intensa e pode sinalizar o teor de confiança que venhamos a possuir acerca de nossas potencialidades.Desejo, meu companheiro e minha companheira de ofício, que sabem a dor e a delícia deste labor, que faça uso destes lembretes diariamente, pois para este extraordinário elixir não há contra-indicação. Coloque-os em prática e depois me diga se realmente eu tinha razão.Com o abraço mais afetuoso do amigo


segunda-feira, 4 de junho de 2007

Sedução


Nem um por cento do brilho
De seus dentes alvos
Merecem meus olhos turvos?
Nem uma mostra da pérola que procuro?
Nem um miligrama do seu batom
Merece minha boca ansiosa?
Nem o sorvo da sedução do fruto maduro?

O Amor


Jamais pensei tamanha dor.
Isto, como se cura?
O tempo cura o amor?!
Só a loucura?!
Procuras indigestas?!
Cerrar as portas?!
Pular de ponta?!
Aparar as arestas?!

Prefiro você...




Prefiro você
A essa noite insone
Ao telefone.
Prefiro você
A esse sorriso abstrato
Do retrato.
Prefiro você
A esse
pensamento fixo,
prolixo.
Prefiro você:
Presente desembrulhado
Ao meu lado.
Simão de Miranda