Catálogo de Obras do Autor

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Teus Olhos Feéricos


Teus olhos feéricos
Nada precisam dizer,
Apenas sorria.
Sorria
apenas
e aproxime-te de mim .
E toca meu rosto tenso
E vê.
E
vem.

Simão de Miranda

segunda-feira, 28 de maio de 2007

AMOR É FOGO QUE ARDE?


Por favor,
Incinere tudo o que me lembra.
Fotografias perdidas de algum dia;
Garatujas dedicadas a você
Que eu, herege, batizava “poesia”;
Beijos que, por um acaso,
Eu tenha esquecido em seus lábios;
Delete-me da memória.
O tempo, inapelável, há de passar
E recomeçaremos a história.


SIMÃO DE MIRANDA

Vastidão



Você não há.
Não a vi, hoje;
Nem amanhã, é certo.
Crio seus cabelos,
Dentes, lábios, cabeça...
E, no sopro vital, desaparece.
Poemas, e nem agradece.
Domingo profundo, defunto,
Cinzento, soturno.
A lua linda
E você não há.
Vastidão.
Domingo ôco
De ponta a ponta
Como se ele nascesse
E você não.

SIMÃO DE MIRANDA

quinta-feira, 17 de maio de 2007


Antes que acabe o último minuto,
Deixe-me que fique aqui junto a ti,
Olhando para mim, este corpo imóvel,
Seixo rolado de rio,
Este nada que faço, minhas não-palavras
Que exprimem-me ou tentam.
Deixe-me que te diga que nos precisamos muito.
Todo o agora, mais que o sempre.


Simão de Miranda

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Rui Barbosa, Paulo Freire...

Sabem aquele poema do Rui Barbosa, onde lá pelas tantas ele dizia “de tanto ver triunfar as lidades, / de tanto ver prosperar a desonra, / de tanto ver crescer a injustiça...” Ei-lo, na íntegra. E, quanta tristeza! Qualquer semelhança com a realidade atual não terá sido mera coincidência!

Abraços, Simão de Miranda

Rui Barbosa, em 1914, escreveu assim:

Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte desse povo,por ter batalhado sempre pela justiça,por compactuar com a honestidade,por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia,pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos,simples e abominavelmente,a derrota das virtudes pelos vícios,a ausência da sensatez no julgamento da verdade,a negligência com a família,célula-mater da sociedade,a demasiada preocupação com o "eu" feliz a qualquer custo,buscando a tal "felicidade"em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir,sem despejar meu verbo,a tantas desculpas ditadaspelo orgulho e vaidade,a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido,a tantos "floreios" para justificar atos criminosos,a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre "contestar",voltar atrás e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim pois faço parte de um povo que não reconheço,enveredando por caminhos que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha impotência,da minha falta de garra,das minhas desilusões e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir pois amo este meu chão,vibro ao ouvir meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!
De tanto ver triunfar as nulidades,de tanto ver prosperar a desonra,de tanto ver crescer a injustiça,de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,o homem chega a desanimar da virtude,a rir-se da honra,a ter vergonha de ser honesto.

sexta-feira, 11 de maio de 2007


Sexta-feira. Saio do trabalho como que com caroço de abacate na garganta. Paira tom sombrio sobre a aura de Brasília. Dirijo-me, às pressas, à caixa postal em desejo desesperado de notícias. Qualquer notícia amiga. Com sofreguidão, giro a pequena chave... Poeira. Sem demora, pego o rumo de casa. Existem partículas de esperanças depositadas na caixinha do correio do edifício onde moro. Mais uma chavinha se move em 180 graus. Conta de luz, extrato do cartão de crédito, taxa de condomínio. Estão todos lá. Aperto o botão do elevador já embevecido de quase desesperança. Imerso em turbilhão de coisas que não consigo classificar, giro outra chave. O que temia estão lá: familiares paredes, paradigmas a me limitar. Caminho pelos cômodos, já incômodos. Nenhum bilhete por baixo da porta. Nenhum recadinho no vizinho. Nenhum aviso com o zelador. As fronteiras do ser humano são largas; no entanto, são finitas. E as minhas teimam em se encerrar no quadrado de um notebook.
Simão de Miranda
(Trecho do conto Esperar é Morrer Lentamente, do meu livro Cronópolis, a Cidade Ácida)